Inaugurar é dar princípio a algo, fazer nascer no mundo uma ideia nova, um novo tempo, novas criaturas, potencialidades de transformação das coisas tais como estão. Ver nascer algo ou alguém é ver nascer um ponto de vista diferente sobre as diversas questões e matérias que permeiam nosso contexto. Esse ponto de vista, novidade no mundo, será balizado por uma rede de necessidades e interesses que poderão dizer respeito ao mais privado dos âmbitos até às circunstâncias mais públicas de nossos horizontes. E isso terá um resultado, um resultado imprevisível, mas que certamente travará relação direta com as decisões feitas nos primeiros passos.
Bom, vamos dar nomes aos bois: A Ocupação Cultural Amarelinho da Luz começa no mundo a partir de agora, mais especificamente na rua General Osório n°23, região da Luz, em cima do histórico bar Amarelinho onde a cultura do samba em São Paulo se mantém viva com as rodas que ocorrem aos sábados por entre as mesas e cadeiras do estabelecimento.
Diante do Largo General Osório, onde uma pequena praça abandonada serve de abrigo às criaturas invisíveis do centro de São Paulo com seus cachimbos e cobertores desgastados pelas intempéries da rua.
Perto da Avenida Mauá, na qual se encontra a grande Ocupação Mauá, residência de mais de 270 famílias que lutam por moradia na prática cotidiana, de forma corajosa e absolutamente política.
Bem em frente ao edifício onde se encontra a Ocupação Cultural Amarelinho da Luz, podemos ver a Escola de Música do Estado de São Paulo Tom Jobim que a todo instante pulsa em notas musicais, ritmos e ruídos, como que em produção de uma trilha sonora clássica e urbana para os ouvidos dos passantes, trabalhadores, traficantes, policiais e moradores dos arredores. Do outro lado, também diante da esquina onde está a Ocupação, mira-se o Hotel Piratininga com suas luzes coloridas nas janelas, mudando de minuto em minuto de tom, na dança de alegrar hóspedes e gatos de rua.
Para além desta cartografia tropicalista sobre o entorno da Ocupação Cultural Amarelinho da Luz, é importante constatarmos o seguinte: não se pode, e nem parece ser possível, ignorar o contexto que nos envolve. Como artistas de coletivos, agentes culturais, precisamos lançar olhares estéticos e políticos para problematizar os sistemas cotidianos da região do centro de São Paulo e construir uma perspectiva política democrática, amoral e libertária sobre as ações culturais que envolvem os habitantes da região, considerando-os indivíduos e coletivos sociais que precisam ser observados verdadeiramente como protagonistas históricos da região.
Dez coletivos de produção cultural em cinema e teatro juntos se organizaram através da mediação da Cia. Pessoal do Faroeste para organizar a articulação necessária à constituição macrocoletiva do Amarelinho da Luz. Em reuniões de caráter deliberativo, os grupos ocupantes são representados por seus integrantes e as escolhas são pautadas fundamentalmente no diálogo e em acordos pertinentes ao bom funcionamento do maquinário coletivo.
Em março de 2013, ocorreu o primeiro encontro dos coletivos que viriam a integrar a Ocupação Cultural Amarelinho da Luz que neste momento vem à público em plena construção, desenvolvendo-se como núcleo de investigação e produção de formas culturais de combate às políticas higienistas que historicamente têm sido estabelecidas na região central da cidade de São Paulo.
Os coletivos que compõem a Ocupação Cultural Amarelinho da Luz são: GRUPO ENCENAÇÃO, AMESMA CIA, MESTREMUNDO, AS GRAÇAS, INSTITUTO VOZ (IVOZ), COLETIVO DE GALOCHAS, ASSOCIAÇÃO RASO DA CATARINA, CIA. DO TERROR, COLETIVO O COMBO DE ARTE INDEPENDENTE e COLETIVO 2ªOPINIÃO, curadoria: PESSOAL DO FAROESTE
Esses grupos estão em processo político e criativo para que suas propostas cênicas e audiovisuais conversem intensamente com a região da Luz, na contracorrente dos discursos hegemônicos que anulam a legitimidade da vida cotidiana específica das regiões críticas da cidade, vida cotidiana essa que origina um processo cultural historicizante e de profunda importância para uma análise social transformadora e gregária. Considere-se convidado para a festa.
Inauguração da Ocupação Cultural
Amarelinho da Luz
7 de setembro 2013
A partir das 14h até às 22h.
Largo General Osório, nº 21 (em cima do Amarelinho/ao lado da Sede Luz do Faroeste)
Atividades no dia também na Sede Luz o Faroeste, Rua do triunfo, 305
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Por Paloma Franca,Coletivo 2ª Opinião
Revisão : Poliana H.